Franqueza, agora digital

    (Foto: Unsplash)

Carlindo, entrei ontem nessa rede social em que podemos fazer comentários sobre o desempenho de colegas de firma. Confesso que não conhecia o novo aplicativo, foi a Jerusa do TI que me passou o link. Enfim, não sou do seu departamento, mas queria compartilhar algumas coisas que ouvi a seu respeito. Espero que não se aborreça com minhas observações e que os outros colaboradores da empresa – que também estão lendo este post no perfil público – não as usem para outros fins que não o desenvolvimento profissional de todos.
Olha, Carlindo, na média eu acho que você entrega. Alguns dizem que você é meio tarefeiro, que não sai fora da caixa. Mas, ok, você nunca deixou um pedido em aberto. Até aí, maravilha. Eu mesma, muitas vezes, prefiro permanecer na minha zona de conforto e não suporto ficar no escritório até tarde.
O complicado é o que muitos funcionários comentam sobre a sua fama de assediador. Me disseram que a Doralice pensou em procurar o RH para formalizar uma denúncia de que você teria tentado seduzi-la. Que você, durante meses, foi diariamente à mesa dela, no almoxarifado. E lá colocava, em cima do teclado do PC, duas paçoquitas com uma mensagem capciosa. O texto do último cartãozinho teria sido a gota d’água (Dora, de quem te adora, bora?). A nossa colega de Serviços Gerais só não registrou a queixa com a Cinira porque recebeu uma proposta de emprego da concorrência e preferiu pedir demissão.
O zum-zum-zum sobre você, Carlindo, não fica só aí. Na semana passada, o Clóvis, arquivista da Contabilidade, misturou cerveja com smirnoff ice no happy-hour do Processos e falou poucas e boas suas. Contou que adulteraram o relógio de ponto do seu setor para poderem sair mais cedo. A maioria garante que foi você. E que ainda teria obrigado o Cícero a mexer na senha do relógio. Chantageou o pobre faz-tudo da firma ameaçando de contar à Cinira que ele bebe tubaína com pinga no lanche da tarde. O seu Belisário descobriu a arrumação e demitiu o tiozinho por justa causa.
Eu queria que você, e as pessoas que estão lendo o meu textão, entendessem que não estou questionando a capacidade de ninguém aqui. Muito menos a sua, Carlindo. Sua atuação na empresa, nos últimos 17 anos, tem o seu valor. Apenas registro isso no aplicativo para, como mencionei acima, colaborar com seu improvement of competitiveness. E torcer muito para que você deixe de assediar sexualmente, pare de falsificar equipamentos corporativos e especialmente que nunca mais passe cheques da empresa para pagar utensílios domésticos de sua residência (NF 1117-8B em anexo: geladeira, Home Theatre, adega climatizada) e quitar prestações da sua SUV (NF 32109-F4 em anexo – utilitário Pajero).
Na esperança de ter ajudado,
Uma colega sua.
P.S.: não tenho nada a ver com suas escolhas pessoais, mas, por favor, não use mais drogas com o Esteves (Financeiro) e o Nonô (Contas a Pagar) no banheiro do segundo andar. Fica um cheiro horroroso no banheiro feminino.
Um beijo no coração!

(Estadão, 25.8.17)

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